(by Fernanda Dannemann)
A minha mente é um cavalo selvagem, e montada
nela é que vivo neste mundo.
Todo cuidado é pouco quando se trata deste
cavalo, porque ele tem vontade própria e, se não for domado, é capaz de me conduzir
a qualquer lugar, inclusive aos piores: houve um tempo em que vivi por lugares
terríveis, ao lado de más companhias e num inverno glacial e sem fim. Não me
dava conta de que sair dali dependia unicamente da minha própria decisão;
bastava, apenas, um pouco de força de vontade. E, claro, de decisão.
Certa vez, eu voltava para casa caminhando por
uma rua linda e cheia de árvores, quando, de repente, quase que por milagre, me
dei conta de que a tarde estava linda: senti o calor daquele dia, vi a luz do
sol entre as folhas, as pessoas com suas roupas coloridas, o sorveteiro, os
cachorrinhos, o portão da escola, as crianças, os carros passando, o mar lá
adiante. Foi um susto, uma surpresa. E então olhei para dentro de mim e cheguei
a sentir a umidade daquela rua escura que eu habitava, cheia de gente
desesperada e sem a esperança de uma manhã gloriosa. Uma rua perdida na noite,
onde eu me sentia (e era, de fato) prisioneira dos meus sentimentos ruins: a
autopiedade, o pessimismo, o ressentimento.
Foi naquele momento que me dei conta de que,
ainda que a realidade esteja difícil, temos que tomar conta, o tempo inteiro,
de por onde vai a nossa mente. Domar o cavalo selvagem e irracional que temos
em nós, mas que também é forte, veloz, voluntarioso... feito só de impulso e
instinto. Fazer dele um servo, não permitir que ele seja o senhor. Entendi o
que quis dizer um mestre budista que conheci certa vez, quando aconselhou:
-- Vigiai!
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E passei a vigiar a minha mente, a recusar os
pensamentos destrutivos da mágoa, da desesperança, do medo e da angústia.
Quando o cavalo entra por estas ruas, eu o conduzo pelos caminhos da alegria,
tratando logo de evocar uma lembrança feliz ou uma expectativa boa. E mesmo que
ele tenha relutado no começo, rapidamente se deixou domesticar, porque tudo
nesta vida é uma questão de treino e de persistência.
Quando dei por mim, já habitava outro mundo, e
meu cavalo seguia manso sob o meu comando, levando-me somente a lugares em que
eu era feliz por estar. Hoje conheço sua força e sei lidar com ela: entendo bem
sobre os seus perigos e armadilhas, afinal, sua essência é a de um animal
selvagem. Mas o mais importante de tudo, é que descobri também a minha força, e
entendi que nada pode ser mais veemente que a vontade de ser feliz.
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