Uma relação a três que
encontra num dia comum uma tragédia. Essa é pura e simplesmente a sinopse deste
musical.
Dirigido por Christophe
Honoré Les Chansons D'amour (Canções de Amor) transita além do gênero, e mescla
angústia e romance na mesma vertente.
Louis Garrel é Ismaël
Bénoliel, namorado de Julie Pommeraye (a bela Ludivine Sagnier); que mantém um
relacionamento a três com a também bela Alice (Clotilde Hesme). Mas o
relacionamento deles não é nem de longe o mais importante aqui. A liberdade é o
tema, e a busca.
A relação amorosa e sexual
se mescla de forma natural, sem ser pedante, crítica ou chocante. Há uma
naturalidade extrema ao tratar disso. A sexualidade não esta ali para chocar ou
polemizar, e sim para fazer parte do cotidiano natural, normal e isso é incrível
ali. O roteiro preza pelo estado emocional dos personagens e não pelos seus
atos, fatos e consequências e isso é peculiar. De pouco importa as ações
ocorridas ali, o que importa é somente a sensação de perda, de angústia daquela
geração retratada, as dúvidas, anseios e paixões no meio disso tudo (emprego
falho, condição financeira tensa, existencialismo em cheque).
O verdadeiro embate entre
os personagens centrais são com eles mesmos, mas de nada tem haver com o fato
deles manterem uma relação a três. Isso é pano de fundo. Uma decisão acertada,
na qual muito diretores não pensariam duas vezes em abusar do tema,
transformando o filme numa experiência maçante e extremamente clichê.
O ponto alto fica pela
beleza e acerto dos planos e concepção de cenas. Com todo um ar independente
que cativa e prende. Em especial a cena em que Ismael parece ser
perseguido pelas ruas ao ir para o trabalho. Numa sequência em primeira pessoa,
onde nos sentimos parte do filme, como se nós estivéssemos perseguindo e nos
escondendo do personagem.
Mas é sua excelente
trilha sonora assinada por Alex Beaupain - cujo trabalho neste longa lhe rendeu
um César (principal prêmio do cinema francês) de Trilha Sonora Original - que
transforma o longa numa experiência no mínimo interessante. As belas canções
trazem letras extremamente dolorosas, pesadas, melancólicas, reflexivas, mas em
melodias lindas e delicadas. As canções fazem parte da trama e não são apenas
um recurso ou artifício.
Apesar do tom leve e
descontraído que o longa assume, ele esta longe de ser um filme simples ou
pouco complexo ou com temas banais. Ele cai fundo nas angústias dos
personagens, em seus olhares, na entonação de suas vozes, nos cigarros fumados,
nas noites sempre chuvosas e esfumaçadas de Paris, numa fotografia apagada e
quase pasteurizada. Tudo é bucólico. Ao final, tudo se reafirma. Naturalidade
versus complexidade em cenas repletas de belas analogias.
Criar um musical original
assim, não é tarefa fácil, ainda mais numa indústria que parece ter se
esquecido do gênero que outrora foi tão popular no mundo. E por isso Les
Chansons D'amour merece ser visto, seja para odiá-lo ou para amá-lo.
Ficha Técnica:
Diretor: Christophe
Honoré
Elenco: Louis Garrel,
Ludivine Sagnier, Chiara Mastroianni, Clotilde Hesme, Grégoire
Leprince-Ringuet, Brigitte Roüan, Alice Butaud.
Produção: Paulo Branco
Roteiro: Christophe
Honoré
Fotografia: Rémy Chevrin
Trilha Sonora: Alex
Beaupain
Duração: 100 min.
Ano: 2007
País: França
Gênero: Musical
Classificação: 12 anos