Te peço
para ir embora durante o café, os teus olhos me atacam em fúria, eu abaixo a
cabeça e ativo o meu escudo. Eu apenas sei que o meu amor com o seu amor juntos
não são o bastante para o que não tem jeito. Todas as palavras já ditas, a
xícara emborcada, café pelo chão e suas súplicas impossíveis. Não, eu não posso
te dar mais tempo, enquanto você tenta desesperadamente arrumar a sua vida eu
fico aqui de braços cruzados sem poder fazer nada ou quase nada para arrumar a
minha, e sinceramente eu sei que você nunca vai conseguir consertar as suas
linhas tortas. Então eu quero que vá e esqueça e se não conseguir apenas finja.
Não me mande nenhum cartão amanhã, nem flores, não me ligue, não me veja, não
me conheça, faça de mim a estranha pela qual você nunca se apaixonaria.
Trate de
ser mais que isso e eu vou fazer a mesma coisa. Estou cansada, assustada e sem
norte, mas isso é hoje, amanhã o sol há de aparecer outra vez, todos vão
acordar, a nossa rotina, trânsito, estresse, barulho, hormônios e calor,
teremos tanta coisa em mente que a dor não conseguirá encontrar lugar em nós e
sem nem perceber ou sequer tentar a gente se esquece. Farei de você o homem
estranho pelo qual eu nunca me apaixonaria. Vou arrumar uma forma de consertar
os estragos desse terremoto, e vai ser fácil desta vez, se você deixar. Desista
de um nós que nunca deveria ter existido e vá cuidar da sua vida com a certeza
de que eu não estarei sofrendo por ter que esperar pelas incertezas do destino
que agora já não pode mais ser chamado de nosso porque esta é a parte do
caminho em que a gente vai para lados opostos.
Você
agora terá todo o tempo do mundo para encontrar as suas soluções e tudo ficará
bem. Não, não diga mais nada, não se esforce em me convencer, eu já desisti do
inferno que seria a vida se insistirmos nesse nós. Você me olha desse jeito, me
despindo como ninguém nunca foi capaz, me traduzindo perfeitamente, me dando
coragem em meio à desistência e medo, é tudo o que eu preciso e é tudo que eu
vou começar a renunciar. Eu renego o amor e peço que vá embora, te bato, desabo
em cima de você com toda essa amalgama de sentimentos que se contorcem dentro
de mim, eu te odeio a partir de hoje porque você é o cara estranho, porque você
deveria ter ficado longe de mim, ou ao menos deveria ter entendido o quão
perigosa seria a sua aproximação. Deveria ao menos entender o que acontece
quando o fogo e pólvora se encontram, eles se consomem até não restar mais nada
e não sobra nada na explosão.
Então
enquanto eu grito o meu desespero na sua cara você me segura, me imobiliza, e
por mais que eu me esforce em resistir o seu calor me amolece, sinto a explosão
se aproximar, e minhas forças se esvaem, e eu grito que te odeio, mas meus
olhos me traem te imploro que vá, te insulto, mas você sabe das minhas melhores
mentiras, sabe do ódio que não sei guardar, sabe dos desejos nunca revelados e
então você me rouba mais um beijo, você me solta, mas eu já estou presa aos
teus lábios, presa aos teus caprichos, presa anestesia do teu amor, não consigo
resistir, você me arranca os nãos e me deixa sempre a mercê dos sins, e então
eu me desespero e então pondero um amanhã. Vamos embora e mesmo aos pedaços
ainda nos temos. O nosso amor faz da nossa vida um inferno e um paraíso ao
mesmo tempo.
Eu me
desvencilho dos teus braços e corro o mais rápido que posso para longe dos meus
sentimentos mais incontroláveis. Entro no carro e choro como uma criança sem
colo, choro pela indecisão, pelo vacilo e pela culpa, choro por ter sido o
nosso último beijo, choro enquanto dirijo, paro em qualquer lugar e depois de
um tempo volto para casa, a dor ainda pulsa em meu peito e eu começo a lutar
desesperadamente para te transformar num estranho, me debato na loucura de ter
que te esquecer e então você me liga, me procura, me pede um tempo, me arranca
dessa falsa sanidade, me faz promessas, você me suplica, e eu na ingênua e
desesperada alegria de te ouvir esqueço de todos os riscos, conseqüências e de
todas as promessas. Mesmo não querendo me queimar e explodir eu me rendo, mesmo
sabendo que os fogos de artifício são um belo, porém efêmero espetáculo. E me
resta apenas um minuto antes da explosão, desvira essa xícara e enche com mais
um café, quente, por favor.
(by Mayra Borges)
Ops… às
vezes as palavras não fluem no momento de “explodir goela afora” nossos
sentimentos, melhor então traduzir neste intertexto... e “falar por outras mesmas palavras”...
by…♥ّۣۜ♥' :♥ّۣۜ♥'
….. Anne Belle