samedi 15 juin 2013

Poeta da Simplicidade - Manoel de Barros

(Pantanal de Mato Grosso do Sul – Brasil)

Eu sempre tive uma atração irresistível pelos cenários e por pessoas simples porque sinto, a partir deles, um chamamento de significados que me aprumam em prol das mais profundas necessidades espirituais e materiais, tudo num desenho único.

Sempre fui encantada pela simplicidade das coisas e pessoas prosaicas, sempre desprezadas na grandiosidade dos temas metafísicos e do cotidiano imponente dos grandes problemas estruturais da humanidade contemporânea, como o cu da formiga citado num poema de Manoel de Barros. Coisas e pessoas inexistentes pela sua aparente desnecessidade no imaginário humano superior. Por isso que sinto que a poesia de Manoel de Barros é para ser lida com o gozo infantil de mergulhar os pés num riacho, de rabiscar cores num papel qualquer, de seguir longamente os passos de uma formiga pelo tapete da sala.


“Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore. Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul e descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas. Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara, envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore porque fez amizade com muitas borboletas.”

(MANOEL Wenceslau Leite de BARROS – Cuiabá, 19 de dezembro de 1916)