“O verdadeiro amor nunca se desgasta.
Quanto mais se dá mais se tem.”
(Antoine de Saint-Exupéry)
“Em minha prática
clínica, tenho me deparado com o tema do amor entre pessoas com mais de 50 e
tenho percebido que os maduros amam com mais qualidade. Isto tem uma explicação
sistêmica: é que chegada a idade madura, as pessoas estão mais carentes, já
sofreram muitas perdas, perderam a ilusão quimérica da vida, do sucesso fácil,
do dinheiro fácil, do glamour fácil. Estão mais sozinhos (não têm mais papai e
mamãe sempre por perto - os suportes amorosos mais verdadeiros do ser humano),
já estão profundamente conscientes da solidão intrínseca de cada ser vivente e,
então, de repente, cada agrado é mais substancial, cada aconchego é recebido
com muita alegria, cada troca humana é intimamente agradecida e louvada.
Nessa fase, você não
exige mais do outro. Você o ama porque o ama, você aceita o outro como o outro
é e não pelas idealizações que o jovem costuma fazer: "Ah, se tu fosses
assim, se tu fosses assado." O amor maduro ama. Ele (a) é assim e eu o (a)
amo porque no contato eu saio mais enriquecida (o) . Este amor tem, como
contraponto, uma capacidade infinda de, justamente, mudar o outro. Quando a
pessoa se sente aceita no que é; ato seguinte já está pronta para a mudança.
Isto é fantástico!
Vejam que contra-senso:
enquanto você guerreia para que o outro mude, o outro não muda porque,
justamente, quer ser aceito incondicionalmente. Estas químicas não se explicam;
assim como o amor não se explica. Mas, poderia você estar a se dizer porque
muitas vezes já ouviu falar: a pessoa carente precisa primeiro se curar para
depois poder amar. Olha, amigo (a), o amor nada mais é do que um suporte de
carências duplas. No amor, eu seguro a "criança" do outro, o outro
segura a minha e nós nos tornamos maiores e melhores porque temos o olhar
emocionado do outro sobre as nossas mazelas.
Então, é interesse? –
poderia estar alguém a pensar também. Amigo, o amor é troca. Não existe amor
que sobreviva sem este duplo. No amor, eu me alimento do outro; o outro se
alimenta de mim.
É esta a própria essência de todos os amores. Quando nascemos,
nossa mãe é nosso primeiro amor, ela nos alimenta, nos aconchega, faz passar
nossas dores e desconfortos e o bebê sente que precisa desta mãe, e por ela
desenvolve um grande apego. A mãe também precisa do bebê. No ato de cuidar e
nutrir aquele ser totalmente dependente dela, ela se nutre de uma auto-estima
que cresce porque se sente produtiva e útil, e ama aquele serzinho que lhe
propicia isto.
Quando crescemos, “temos”
que abandonar este amor - afinal estamos grandes, não podemos ser dependentes
(a sociedade nos exige isto) e nossos hormônios nos impulsionam para o sexo
contrário. Neste contexto, surgem os primeiros namoradinhos (as) que nada mais
são do que substitutos daqueles primeiros amores infantis. Mas o jovem não está
tão calejado ainda. Vai lá, escolhe um, confunde as coisas, pensa que é o
certo. Confusões, acertos, desacertos até chegarmos à idade madura, quando bate
uma vontade muito forte de resgatar o que é realmente importante e vital. E o
amor maduro é, por isso, mais valorizado e louvado. Mais vivenciado e
agradecido.”
Onete Ramos (psicóloga)