dimanche 22 janvier 2012

CAMILLE CLAUDEL


Artista brilhante que teve sua história vinculada a um dos mais importantes escultores modernistas do século XX, Camille Claudel deixou sua marca na história da arte impressa às custas de um imenso sacrifício pessoal. Testemunha do conservadorismo da sociedade de sua época com relação às mulheres, em nome de sua busca artística procurou enfrentar os absurdos preconceitos então em voga. Terminou abandonada, traída, isolada e aprisionada em um hospício durante mais de 30 anos.

Com sua personalidade e sua carreira destruídas, Claudel tornou-se um dos mais revoltantes exemplos de como um artista pode ser esmagado pela brutal engrenagem capitalista. Exemplos como os dela existem inúmeros na história da arte, de Van Gogh a Pollock. Pela sua condição de mulher, porém, deixou exposta de maneira ainda mais evidente as duras exigências do capitalismo para com os artistas, especialmente violento com as mulheres, e as absurdas imposições que estes são obrigados suportar para a manutenção de sua atividade.
Apesar de todas as barreiras que lhe foram impostas, ainda assim conseguiu desenvolver uma expressividade artística vigorosa, adaptando de uma maneira extremamente pessoal algumas importantes conquistas do modernismo. Ao lado de Auguste Rodin, de quem foi parceira criativa, musa e amante, ajudou a consolidar definitivamente o movimento de renovação nas artes escultóricas. À parte da mitologia que foi criada de que a culpa única e exclusiva da deterioração mental de Camille seria de Rodin, seu posterior isolamento tem um caráter muito mais abrangente, e serve de lição até os dias de hoje aos artistas em geral e às mulheres em particular, acerca do papel nefasto que cumpre o capitalismo também na área da cultura. Após ter perdido tudo, até mesmo o contato com sua atividade criativa, ela concluiria, revoltada com a sociedade sua época: "A imaginação, o sentimento, o imprevisto que surge do espírito desenvolvido é proibido para eles, cabeças fechadas, cérebros obtusos, eternamente negados a luz.”

Primeiros anos

Nascida em Villeneuve-sur-Fère, em dezembro de 1864, Camille era a mais velha de uma família de três irmãos, sendo um deles o célebre poeta Paul Claudel. Embora a família não fosse rica, estava confortavelmente estabelecida na sociedade da época.
Ao lado dos irmãos, Camille viveu toda sua infância no presbitério de seu avô, e desde cedo chamava atenção seu temperamento forte e impulsivo. Citada como uma criança precoce, ela encontrou na modelagem da argila uma maneira de alimentar sua imaginação ativa. Muito rápido demonstrou grande habilidade no trato com as técnicas escultóricas, que assimilava de maneira empírica, sem nenhum contato com profissionais das artes. Ainda pequena, declarou profeticamente que se tornaria escultora; que seu irmão Paul, seria escritor, e sua irmã mais jovem, Louise, musicista. Previsão que realmente se concretizou, ainda que Lousie não tenha se tornado mais do que uma pianista diletante, aprisionada cedo como dona de casa após seu casamento.
Certa vez, causou grande impressão em seu pai após modelar um conjunto de ossos com extraordinária habilidade. Sempre defensor e entusiasta dos talentos de Camille, seu pai procurou desde então garantir a ela todos os meios possíveis para desenvolver sua habilidade, à revelia da vontade de sua esposa, que considerava tal ocupação um capricho pessoal de Camille, e se colocou desde sempre contra desenvolvimento artístico não só da menina, mas de todos os três filhos. O pai, ao contrário, citado por Paul como "um montanhês nervoso, impulsivo, colérico, fantasioso, imaginativo ao excesso, irônico, amargo", possuía elevados ideais artísticos que nunca conseguira desenvolver, projetando suas aspirações nos filhos, incentivando-os sempre à carreira artística.
Segundo ainda descrições de Paul, Camille era, dos três irmãos, a mais parecida com o pai em temperamento, e conseqüentemente, a que mais se ligou a ele. "Minha irmã possuía uma vontade terrível, uma imaginação excepcional e também uma tremenda violência de caráter, um gênio furioso de zombaria".
Foi, desde a juventude, curiosa e apaixonada, passava os dias entre a modelagem de argila e as leituras dos clássicos da literatura. Aos doze anos, já havia assimilado uma cultura excepcional para sua idade. Estimulava sempre o jovem Paul a ler suas obras favoritas de Shakespeare, Goethe e Victor Hugo, denotando já sua futura sensibilidade artística vinculada aos temas românticos.
Aficionados por poesia, muitos anos depois, os dois irmãos participariam de reuniões regulares na casa do poeta Mallarmé, quartel general da vanguarda artística francesa em finais do século XIX.
Já desde os 12 anos, havia realizado esculturas impressionantes de figuras históricas como Napoleão Bonaparte, impulsionador das revoluções burguesas por toda a Europa, e Bismarck, que derrotou o ditador Napoleão III, além de personagens bíblicos e deuses gregos. Desta época destacava-se sua obra Sansão e Dalila, realizada aos 13 anos. Passava seus dias concentrada em sua produção, obrigando toda a família a posar para ela horas a fio, e transformando toda a casa em um enorme ateliê, com rastros de gesso e barro por todos os lados. Suas esculturas eram feitas em "terra, pedra, madeira, mil figuras trágicas ou caretas que são os heróis de todos os tempos e todos os povos".

A vida em Paris

Seu primeiro mestre foi o escultor Alfred Boucher, que a incentiva a seguir para Paris para aperfeiçoar seus estudos, e assim que seu pai é transferido para outra cidade, em 1881, Camille consegue finalmente autorização paterna com a ajuda de Boucher e segue para a capital francesa, ingressando na Academia Colarossi, aos 17 anos.
Lá alugou seu primeiro ateliê, que dividia com mais três colegas da academia. Paul Dubois, escultor consagrado e professor das meninas, imediatamente se espantou com a incrível habilidade de Camille, bem como sua técnica pouco convencional, desligada da tradição acadêmica. Nesse período, realiza suas primeiras esculturas importantes que já prenunciavam o caminho que ela seguiria na fase madura, o delicado busto de seu irmão "Paul Claudel aos treze anos", de 1881, e "A Velha Helena" no ano seguinte, que se tornaria seu primeiro trabalho exibido publicamente, em 1885.
Será Boucher quem apresentará Camille ao promissor escultor Auguste Rodin, pouco conhecido publicamente, mas admirado por um pequeno círculo artístico.
A solidez e a consistência dos trabalhos de Camile, ainda tão jovem, causam uma profunda impressão em Rodin, que, em 1885, admite-a como aprendiz em seu ateliê na Rua da Universidade.
Rodin, então com 40 anos, estava rompendo com a tradição escultórica anterior e se tornaria o principal nome do modernismo em escultura, sendo sua obra uma expressão do caminho natural que seguia todas as artes naquele período. Rodin vivia então em seus anos heróicos, estava no auge de sua atividade criadora. Sua obra destacava-se pela incrível percepção do movimento e suas técnicas não convencionais de modelagem, com distorções musculares expressivas e a gradual simplificação das formas. Tal trabalho demonstrava sua assimilação, de forma muito particular, das inovações estéticas impulsionadas pelos diversos modernismos pictóricos de seu tempo, como o impressionismo, o fauvismo e o expressionismo, adaptadas nas representação das formas e não mais das cores, como haviam feito seus colegas pintores. "Modelava pequenas superfícies luminosas, breves pinceladas de sombra e reflexos que fazem ressaltar o corpo e o irradiam".

O ingresso no ateliê de Rodin

Trabalhando ainda na obscuridade, desconhecido do grande público, mas impulsionado por escritores e críticos vanguardistas, adeptos das novas correntes artísticas, Rodin, desde de 1880, recebia já uma série de encomendas importantes que lhe permitiram manter vários ateliês. Desde então, sua produção adquira o caráter vertiginoso de uma verdadeira indústria. Investia todo o dinheiro arrecadado novamente em sua produção, comprando mármores da melhor qualidade e contratando os melhores artesãos para lhe auxiliar no trabalho.
Rodin dedicava-se integralmente à sua obra, era um trabalhador dedicado e extremamente crítico. Considerava que a mera habilidade técnica deveria ser encarada com desconfiança, pois a arte verdadeira passava por outros caminhos. Sua técnica dinâmica e o incrível volume que adquiria sua produção eram já a expressão dos novos tempos, o ritmo da nova época, cujos impressionistas haviam anunciado duas décadas antes dele. Posteriormente seria consagrado como o grande escultor da psicologia humana. Suas enormes figuras ultrapassavam já o naturalismo em busca de distorções expressivas que ressaltassem a vida íntima de seus personagens, influenciado pelos ideais elevados de artistas como Dante e Victor Hugo.
A seu respeito alguém teria dito "Nessa gigante e pretensiosa camada de cor cinza, a luz que Rodin faz aparecer no céu das artes é a do sol nascente".
Quando começou a trabalhar no ateliê de Rodin, Claudel tinha apenas 19 anos. Ela encarava sua atividade com extrema seriedade e desprezava grande parte dos escultores contemporâneos, ou por sua indolência, ou pela mediocridade de seus objetivos, ou pela banalidade das técnicas; por isso mostra-se significativo o fato de Claudel ter aceitado Rodin como mestre, endossando assim seu respeito e admiração pelo velho artista.
Das dezenas de práticos que Rodin mantinha em seu ateliê, Claudel seria não apenas a única mulher, mas também o único dos colaboradores de Rodin a ganhar uma projeção individual.
Assim, em 1885, quando ingressa no ateliê da Rua da Universidade, Camille participa da execução de uma das obras mais importantes do artista, o projeto grandioso As Portas do Inferno, formado por uma série de estátuas menores.
A minúcia e perfeição com que ela talhava o mármore lhe renderam rapidamente a função de trabalhar nas partes mais delicadas dos grupos de estátuas mais importantes do projeto, como as mãos e os pés dos seis personagens do grupo Burgueses de Calais.

De simples aluna, em pouco tempo Camille se ergue ao status de uma de suas principais colaboradoras. Além de esculpirem juntos, Claudel também posava como modelo para inúmeras esculturas do velho mestre, a ponto de ocupar também a função de sua principal modelo.
Ao lado de Rodin, Camille não só desenvolveria vertiginosamente sua atividade artística, mas encontraria também uma compreensão em comum que os aproximaria como amigos, parceiros e amantes. Relação que duraria cerca de 15 anos.

Uma parceria criativa

Tendo Camille como musa e parceira criativa, Rodin iniciou uma nova etapa em sua obra, caracterizada por uma nova sensualidade. É desta fase algumas obras fundamentais do artista, como O Beijo, O Eterno Ídolo, As Sereias e A Danaide, que teve Camille como modelo. Seu corpo e seu rosto foram ainda representados em outras tantas esculturas e desenhos, como O Pensamento, São Jorge e A Aurora.
Além de participar ativamente dos trabalhos de Rodin, Claudel por sua vez iniciou também um novo ciclo em sua obra, afirmando e consolidando seu estilo pessoal, mais sensual e intimista. Claudel assimilou principalmente a técnica de Rodin, terreno em que ele tinha vasta experiência. Em contato com seu novo mestre, sua obra ganha uma nova perspectiva, incorporando o movimento e a leveza características de Rodin, sem contudo perder sua personalidade. Dos seus trabalhos nesse período, como Louise, em bronze, Torso de Mulher e Rodin Giganti, merece destaque o busto Paul Claudel aos 16 anos, em gesso.
Sua primeira obra da fase madura viria no entanto, apenas em 1888, apresentada no Salão dos Artistas Franceses. Era uma escultura em mármore, intitulada Sakuntala, obra onde se via com clareza toda a influência exercida por Rodin em sua obra.

Sakuntala, que representava a entrega amorosa apaixonada, era a versão de Claudel para O Beijo, de Rodin, mas com uma atitude diferente. Posteriormente Rodin realizou O Eterno Ídolo, que também dialogava com Sakuntala, numa atitude contida e idealizadora da mulher, revelando o intenso intercâmbio criativo entre os dois.
A relação dos dois aproximou-se ainda mais em 1888, quando Camille saiu da casa dos pais para morar no novo ateliê que Rodin havia alugado exclusivamente para os dois trabalharem. Era uma velha e luminosa mansão com aspecto abandonado devido aos parcos recursos de Rodin, que eram drenados permanentemente pela compra de materiais de trabalho.
Com sua mudança para este ateliê, Camille torna-se publicamente sua amante, dispostos a enfrentar a ira do conservadorismo da Belle Époque. Obviamente, o peso da moralidade hipócrita cairia com muito mais peso na cabeça da jovem Camille, mulher, artista e amante de um homem casado de meia idade.
As conseqüências dessa exposição só ficariam mais claras, entretanto, alguns anos mais tarde, com a ruptura de relação entre os dois. Naquele momento, porém, Claudel, da mesma maneira que Rodin, vivia o ápice de sua criatividade, evoluindo, não gradualmente, mas aos saltos. Nos anos posteriores ela adentraria com toda a força no período maduro de sua produção, ao mesmo tempo que teria sua psicologia esfacelada pelo isolamento, a miséria, a rejeição e as condenações morais impostas a ela pela sociedade de seu tempo.

Artista brilhante que teve sua história vinculada a um dos mais importantes escultores modernistas do sóculo XX, Camille Claudel deixou sua marca na história da arte impressa às custas de um imenso sacrifício pessoal
 
Entre os anos de 1887 e 1890, Rodin executava sua obra capital, As Portas do Inferno. Entre os inúmeros grupos escultóricos presentes neste grandioso projeto, em 1888 ele concebeu a figura O Pensador que, anos mais tarde, alcançaria seu pleno êxito como escultura independente. Apenas um ano mais tarde, Rodin participa de uma exposição decisiva em sua carreira, juntamente com alguns quadros do já consagrado pintor impressionista da primeira geração, Claude Monet, que consolidam de maneira definitiva o nome do escultor como figura de proa do movimento renovador das artes e representante legítimo do impressionismo em escultura. Ele estava então com quase cinqüenta anos, era casado com uma respeitável senhora de sociedade e desfrutava de uma razoável situação financeira. Nos bastidores de sua vida, morando em um de seus muitos ateliês, mas com uma participação ativa tanto em sua obra quando em seu coração e pensamentos, estava Camille Claudel, que naqueles anos, apesar de já possuir uma identidade artística madura e definida, possuía o status de uma reles aprendiz, desprezada pela crítica como mera virtuosa técnica. No ano em que Rodin expõe ao lado de Monet, Claudel apresentava seu impressionante busto A Prece, uma jovem absorta em um profundo êxtase contemplativo, extraordinária em sua naturalidade. Ao lado do escultor mais velho em plena ascensão, Claudel amadurece também rapidamente, mas para ela, as portas estranhamente não se abrem com tanta facilidade. Neste mesmo período, ela inscreve-se em um concurso para a construção de um monumento em uma praça pública em sua cidade natal, mas tem seu nome recusado apesar da mediocridade dos demais participantes.
Ela sentia dificuldades até mesmo em estabelecer contato com outros jovens artistas também em começo de carreira. Ser vista como a amante de um escultor consagrado muito mais velho que ela causava escândalo entre a alta sociedade conservadora e precaução por parte dos artistas jovens, que procuravam inserir-se também neste mercado através de boas relações com a clientela burguesa, a única capaz de pagar pela compra de mármores e a fundição de bronzes.
Apesar das dificuldades práticas, sua relação amorosa com Rodin servia para ela como uma compensação que de certa maneira também lhe proporcionava o contato com clientes importantes para financiar sua atividade. Mas desde esta época, porém, lhe causava cada vez mais incômodo o fato de Rodin não se decidir por separar-se definitivamente de sua esposa, Rose Beuret. Do início da década de 1890 em diante, a relação dos dois será cada vez mais assediada pelos problemas materiais e afetivos de Camille. Conforme passavam os anos, essa indefinição causava nela uma grande agitação e incerteza com relação ao seu futuro.

UMA ARTISTA EM ASCENSÃO

A partir de 1892, com a intensificação das brigas entre Claudel e Rodin, além de um provável aborto, ficava claro o rumo que tomava a relação dos dois artistas. O final era certo. Neste mesmo ano, Rodin inicia uma série de esculturas citadas como o marco final de sua relação com Camille. Primeiro a série A Aurora, A Convalescente e O Adeus; e a seguir as estátuas Orfeu, onde o músico mitológico implora o retorno de sua amada, e a fantástica Orfeu e Eurídice, todas datando de 1892-93, constituindo variações da mesma alegoria, representando a perda da mulher amada.
Ao mesmo tempo, despontava na obra de Camille a força renovada de uma expressividade incandescente e sensível. Algumas de suas obras capitais são exatamente deste período.
Com o intuito de pressionar Rodin para separar-se de uma vez por todas de Rose, Camille muda-se para o Boulevard d´Italie, afastando-se temporariamente dele, sem romper relações, contudo. Nesse breve retiro, ela executa a espantosa escultura A Pequena Castelã, absurda em sua vivacidade e leveza de traços, além da belíssima A Valsa, representando um casal apaixonado dançando em estado meditativo, e a espantosa Clotho, escultura mais significativa do período, uma reflexão sobre a velhice e a decadência, temas que preocupavam então Camille. Outra obra significativa do período é o busto Rodin, exposta em 1892, com recepção favorável por parte da crítica. Era uma visão idealizada e imponente do artista, sério e patriarcal, que contrastava vivamente com os esboços em desenho realizados por Claudel, que mostrava um Rodin mais caricato, ridicularizado como figura grotesca e decadente, ao lado de uma figura esquálida representando Rose, uma caricatura da farsa que Rodin insistia em representar.
Em 1894, com a intensificação da briga entre os dois, somado com a pressão que o artista estava sofrendo pelas críticas à sua obra mais ambiciosa, Balzac - onde o grande escritor era representado, não à maneira clássica, mas em distorções significativas, afim de ressaltar alguns traços de sua personalidade -; Rodin resolve sair do país temporariamente, rompendo também com Camille.
Um ano antes, Camille havia iniciado seu projeto mais importante até então, um grupo de três estátuas intitulado A Idade Madura, em clara vinculação ao momento presente de sua vida. Durante a ausência de Rodin, em 1894, ela terminava a primeira figura do grupo: A Implorante, uma mulher de joelhos, os braços estendidos e o torço inclinado, em muda agonia, figura esplêndida em seu drama, que obviamente era o da própria artista.

A MATURIDADE DA SUA OBRA

O conjunto completo de A Idade Madura, uma dramática reflexão sobre o ritmo implacável da vida e suas inevitáveis perdas, trazia, além da figura A Implorante, também um homem sendo conduzido com uma entidade sobrenatural representando a morte. Para além das conotações afetivas, este trabalho genial de Camille marcava também uma nova etapa em sua obra.
A crise de seu relacionamento afetivo é também o período em que as esculturas de Camille mais irão se distanciar das referências de seu mestre e amante, adquirindo, finalmente, uma feição particular, já sem nenhuma vinculação com o estilo de Rodin.
Inicialmente, o Museu de Belas-Artes interessa-se pela peça, mas acaba cancelando a encomenda, e será apenas pelas mãos de um admirador particular de seu trabalho, o Capitão Tissier, que A Idade Madura ganha uma versão definitiva em bronze.
É deste mesmo período sua delicada escultura As Faladeiras, uma peça bastante pequena e delicada, fora dos padrões tradicionais para esculturas na época e talhada em ônix, representando uma cena do universo feminino, onde quatro mulheres conversam, contando, uma no ouvido da outra, alguma fofoca ou segredo. Era a primeira vez que Camille utilizava alguma cena do cotidiano como tema para suas obras, e não imagens alegóricas idealizadas e a nudez explícita que caracterizava sua obra pregressa e a de Rodin. Tanto na forma quanto no conteúdo, Claudel se libertava da influência de Rodin.
Obra importante deste período é também A Onda, de 1897, também esculpida em ônix em uma peça de pequena escala, representando três banhistas surpreendidas com a presença de uma grande onda que se fecha sobre a cabeça delas. Esta nova etapa de seu trabalho se completa com mais duas outras peças retratando cenas corriqueiras. Uma, de 1898, refletindo sobre a solidão é O Profundo Pensamento, onde uma mulher descansa escorada em uma lareira; outra é Sonho ao Canto da Lareira, de 1900, uma variação do mesmo tema. Uma figura feminina meditando em pose contemplativa, o rosto observando o fogo.
Após seu afastamento gradual de Rodin desde 1893, que culminaria com a ruptura definitiva em 1898, seu contato com a sociedade artística e cultural foi também sendo gradualmente prejudicado.
Camille nunca fora muito sociável e, procurando afastarse do círculo social de Rodin, comprometia-se também profissionalmente.

OS PROBLEMAS MATERIAIS

A escultura nesse sentido, é uma profissão particularmente difícil de se sustentar, com inúmeros gastos. É necessário pagar um ateliê grande o bastante para estocar as peças, manter diversos ajudantes, modelos regulares, além da matéria prima e a fundição. Isso tornava os escultores ainda mais dependentes de ricos financiadores e encomendas regulares para se manterem em atividade. Camille, por outro lado, sempre desprezou essas cobranças, era extremamente exigente com sua obra e recusava-se a ceder o que fosse às tendências do mercado artístico, não tinha talento também para ficar bajulando pistolões da burguesia francesa e criticava freqüentemente Rodin pelas concessões que ele se via obrigado a fazer para manter um cliente e a escravização que representava estar sempre em algum evento social, garimpando financiadores em potencial.
Devido às críticas que recebia de Camille, Rodin também não insistia para ela se inserir no mecanismo financeiro do mercado de arte.
Essa intransigência de Claudel para com sua obra lhe rendia poucos clientes, e após sua ruptura com a sociedade de Rodin, foi-se confirmando um processo inevitável: o isolamento de Claudel.
Seu trabalho, sempre vinculado ao de Rodin, ainda não havia se afirmado como fruto de uma sensibilidade original. Poucos falavam de sua obra, apesar de um grupo de críticos fiéis sempre procurar colocar a produção de Claudel em perspectiva.
Mas os preconceitos contra ela eram inúmeros. Primeiro o fato de Camille destacar-se em uma atividade tipicamente masculina, como a escultura, depois uma moralidade hipócrita que procurava desprezá-la por sua relação com Rodin; ou a mentalidade estreita que também insistia em rebaixá-la a mera aprendiz, que supostamente se limitava a copiar a “grandiosidade” do mestre. Por fim, sua falta de disposição para conquistar clientes, que lhe rendeu a fama de ser uma mulher terrível, intratável, com um péssimo gênio.
Tal panorama negativo acabaria por isolar cada vez mais Camille, culminando com sua degradação física e esmagamento psíquico, até levar à esterilidade de seu trabalho criativo.